Litografia a memória da pedra

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Minha proposta com a litografia é através do múltiplo recriar o uno. A possibilidade de criar cópias a partir de uma matriz é a razão de ser da gravura. No entanto, ao começar minha pesquisa na litografia, percebi que a proposta de gerar cópias perfeitamente iguais não era o que me atraía nesta técnica, e sim justamente as pequenas diferenças, as pequenas falhas, que resultavam na singularidade de cada cópia, tornando-a única. A partir desta constatação, comecei a explorar as possibilidades de interferir em cada cópia com aquarela, lápis de cor e tinta acrílica, além das eventuais falhas que formam as PI ou prova de impressor. As tiragens semelhantes, mas não idênticas, são as que propõem ao espectador o olhar investigador, curioso e sensível aos diálogos da pedra.

Minha temática principal na litografia, mas não a única, tem sido os hexagramas do livro das mutações. Este é um projeto em andamento. Sou estudioso do Yi Jing (I Ching), o livro das mutações desde os anos 80. O projeto de ilustrar em Litografias as imagens do livro começou em 1986, após um período de pausa de 24 anos, foi reiniciado em março de 2014. Cada gravura ilustra um dos 64 hexagramas (situação tipo). Utilizando as 8 imagens universais que retratam a base do livro das mutações; Céu, Terra, Vento, Trovão, Fogo, Água, Lago e Montanha; cada gravura associa duas destas imagens, uma sobre a outra para especificar as qualidades internas e externas de cada situação.

Já existem disponíveis inúmeras ilustrações do Yi Jing em forma de pinturas, desenhos, cartas de baralho, aplicativos de celular, jogos de adivinhação, etc., mas não em trabalhos em litografia. Cada pedra demora do desenho à impressão uma média de três a seis meses, portanto das 64 imagens, neste momento, em meados de 2022, já estão realizados 24 disponíveis à venda, faltando ainda provavelmente mais uma década para a finalização deste projeto. O investidor que tenha intenção de ter toda a coleção completa deve considerar que este é um investimento a longo prazo. Para os que só queiram adquirir uma imagem de sua escolha, podem adicionar à sua compra uma leitura interpretação feita por mim online.

Minha ideia ao iniciar este projeto não foi somente ilustrar as imagens, mas sim causar uma leitura da qualidade energética do hexagrama (situação tipo). O Yi Jing começou como um oráculo há aproximadamente três milênios atrás. Como um instrumento de comunicação entre o mundo manifesto dos vivos com o mundo invisível dos mortos. Primeiro através da interpretação por um xamã sobre as rachaduras causadas nos ossos de animais queimados em sacrifício. Mais tarde as queimaduras eram feitas propositalmente em cascos de tartaruga. Para registrar estas interpretações, criaram-se signos que vieram a se tornar os ideogramas. Podemos dizer sem exagero que os chineses criaram a escrita para registrar o Yi Jing.

A pedra litográfica, enquanto material natural que interage com o artista, absorvendo água, tinta e respondendo conforme suas próprias características, às vezes inesperadas, às vezes caprichosas, nos traz, assim como o casco de tartaruga, o médium ideal para expressar a mensagem do invisível para o visível, a resposta do universo, do Tao da natureza. A outra temática recorrente nas minhas Lithos é o Rio de Janeiro enquanto montanha e água, que segue meu trabalho principal na pintura. Desenho e impressão das minhas Lithos realizados na Oficina de Litografia da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, RJ, com a assistência dos professores Antonio Grosso, Edgar Fonseca, e desde 2014 com orientação da professora Tina Velho e a litógrafa Sahar Ansari.

A venda dependerá da disponibilidade de cópias. Uma vez que, por serem de um número limitado de cópias, as impressões variando de 5 a 20 cópias no máximo, assim como o trabalho de interferência, que faz com que cada cópia seja única, algumas das Lithos podem estar apenas disponíveis para visualização e para apreciação do conjunto da obra.